por Fabrício Carpinejar e Mário Corso
Não há sequer um jogador de futebol que se assumiu gay no Brasil.
Não houve um único homem de fibra que disse em qualquer microfone de qualquer rádio em qualquer partida: Queria mandar um abraço ao meu marido.
Já entendi a resposta, não temos que misturar vida pública da pessoal. O trauma é que não existe vida pessoal até o momento, nem para ser misturada. Não há um único gay declarado. Temos cinco Copas do Mundo, somos eleitos o melhor toque de bola da terra, e não localizamos um gay jogando na Primeira, na Segunda e na Terceira Divisão, tampouco nos campeonatos regionais. Não é estranho?
Não é o caso de sair do armário, é para sair do arquivo secreto. Em toda profissão, encontraremos profissionais gays bem sucedidos, resolvidos, abertos. Menos no futebol.
É um mistério - para não dizer um escândalo - a homofobia.
Procuramos bares e festas gays, músicas e filmes gays, amigos e confidentes gays, não conseguimos pensar nossa vida sem a transparência sexual e emocional, porém não sentimos que há alguma coisa errada nos gramados. Como? A ausência não é natural. É forçada, ensaiada, recalcada. Desse jeito, os estádios brasileiros são campos de concentração. É uma omissão digna de Fidel castro, que perseguiu milhares de militantes.
Jogador não se assume gay, é acusado. Gay ainda é visto como uma acusação no futebol. Uma ofensa ao rival. Nenhum atleta se expressou publicamente com medo do boicote, com medo de ficar no banco, com medo de ser descartado do elenco, com medo de represália na família.
Ser gay no futebol permanece como fofoca, maledicência, safadeza. Onde estamos? Quando não é inferiorizado por ataques, vira folclore. Anedotário.
Persevera um tabu católico de que o gay é um desvio da natureza, um problema psicológico, uma doença física. Convenhamos, vamos falar sério. Como gente grande. Técnicos não abrem a boca, dirigentes fingem que não é censura, comentaristas aceitam a armação purista.
Será que temem um jogador gay tomando banho no vestiário, convivendo com colegas seminus? Será que imaginam que ele atacará? Que ficará olhando, flertando? Que vai derrubar o sabonete de propósito?
Mas, então, os clubes de piscina devem ser fechados. Não inauguramos o respeito, não aprendemos sobre intimidade. É uma desonra confundir gay com tarado. É uma distorção confundi-lo com promíscuo.
Craque pode se encontrar em motel com travestis, só não pode ser homossexual.
Sabe o que é isso? Covardia da própria masculinidade.
Avançamos no combate ao racismo na torcida, mas liberamos os gritos de bicha e de boiola. Inclusive incentivamos as crianças a cantar. Isso não é liberdade de expressão, é crime. Coerção coletiva, disposta a humilhar, é crime.
Não adianta modernizar as arenas para a Copa de 2014 se não modernizamos a moral.
A bobagem que se conta é que os gays não jogam futebol. É preciso ter um desconhecimento total do assunto para apoiar tal ingenuidade perversa. Gay joga futebol, nem melhor nem pior, joga como qualquer um.
No imaginário gay é necessariamente mulherzinha. Quer dizer, não tem virilidade, não tem desenvoltura para esportes de macho. Ocorre que gay é plural, tem tudo que é tipo de gay. Uma das possibilidades entre os gays é partilhar identificação com uma mulher forte na sua história (geralmente a mãe) e então se parecer com ela. Identificação não é tudo, aliás, às vezes não é nada. Muitos homens, pais de família, apaixonados por mulheres, com forte elo feminino, não desejam beijar um homem, nunca passou o apelo pelo corpo.
O problema é que ser gay não está na identificação, e sim na escolha do objeto erótico. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, não se aproximam nem se contaminam.
Um gay pode ter uma forte identificação com seu pai, voz grossa, partir para porrada por qualquer coisa, ser da tropa de choque, mas desejar homens para transar.
E sobejam os casos mistos, ter uma identificação feminina e ao mesmo tempo uma escolha de objeto homo-erótico.
Nelson Rodrigues afirmava que dentro de homem existe sua infância enterrada feito sapo de macumba. O ele faltou dizer é que também está enterrado em cada um de nós o nosso oposto, o sócio minoritário das nossas escolhas, é ele que treme quando o assunto é gay. Quanto pior enterrado, quanto maior esse sapo, mais vai reprimir nos outros para reprimir em si mesmo.
Será que não há também torcedor gay no país? Que vida esse torcedor está defendendo no estádio?
Não há sequer um jogador de futebol que se assumiu gay no Brasil.
Não houve um único homem de fibra que disse em qualquer microfone de qualquer rádio em qualquer partida: Queria mandar um abraço ao meu marido.
Já entendi a resposta, não temos que misturar vida pública da pessoal. O trauma é que não existe vida pessoal até o momento, nem para ser misturada. Não há um único gay declarado. Temos cinco Copas do Mundo, somos eleitos o melhor toque de bola da terra, e não localizamos um gay jogando na Primeira, na Segunda e na Terceira Divisão, tampouco nos campeonatos regionais. Não é estranho?
Não é o caso de sair do armário, é para sair do arquivo secreto. Em toda profissão, encontraremos profissionais gays bem sucedidos, resolvidos, abertos. Menos no futebol.
É um mistério - para não dizer um escândalo - a homofobia.
Procuramos bares e festas gays, músicas e filmes gays, amigos e confidentes gays, não conseguimos pensar nossa vida sem a transparência sexual e emocional, porém não sentimos que há alguma coisa errada nos gramados. Como? A ausência não é natural. É forçada, ensaiada, recalcada. Desse jeito, os estádios brasileiros são campos de concentração. É uma omissão digna de Fidel castro, que perseguiu milhares de militantes.
Jogador não se assume gay, é acusado. Gay ainda é visto como uma acusação no futebol. Uma ofensa ao rival. Nenhum atleta se expressou publicamente com medo do boicote, com medo de ficar no banco, com medo de ser descartado do elenco, com medo de represália na família.
Ser gay no futebol permanece como fofoca, maledicência, safadeza. Onde estamos? Quando não é inferiorizado por ataques, vira folclore. Anedotário.
Persevera um tabu católico de que o gay é um desvio da natureza, um problema psicológico, uma doença física. Convenhamos, vamos falar sério. Como gente grande. Técnicos não abrem a boca, dirigentes fingem que não é censura, comentaristas aceitam a armação purista.
Será que temem um jogador gay tomando banho no vestiário, convivendo com colegas seminus? Será que imaginam que ele atacará? Que ficará olhando, flertando? Que vai derrubar o sabonete de propósito?
Mas, então, os clubes de piscina devem ser fechados. Não inauguramos o respeito, não aprendemos sobre intimidade. É uma desonra confundir gay com tarado. É uma distorção confundi-lo com promíscuo.
Craque pode se encontrar em motel com travestis, só não pode ser homossexual.
Sabe o que é isso? Covardia da própria masculinidade.
Avançamos no combate ao racismo na torcida, mas liberamos os gritos de bicha e de boiola. Inclusive incentivamos as crianças a cantar. Isso não é liberdade de expressão, é crime. Coerção coletiva, disposta a humilhar, é crime.
Não adianta modernizar as arenas para a Copa de 2014 se não modernizamos a moral.
A bobagem que se conta é que os gays não jogam futebol. É preciso ter um desconhecimento total do assunto para apoiar tal ingenuidade perversa. Gay joga futebol, nem melhor nem pior, joga como qualquer um.
No imaginário gay é necessariamente mulherzinha. Quer dizer, não tem virilidade, não tem desenvoltura para esportes de macho. Ocorre que gay é plural, tem tudo que é tipo de gay. Uma das possibilidades entre os gays é partilhar identificação com uma mulher forte na sua história (geralmente a mãe) e então se parecer com ela. Identificação não é tudo, aliás, às vezes não é nada. Muitos homens, pais de família, apaixonados por mulheres, com forte elo feminino, não desejam beijar um homem, nunca passou o apelo pelo corpo.
O problema é que ser gay não está na identificação, e sim na escolha do objeto erótico. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, não se aproximam nem se contaminam.
Um gay pode ter uma forte identificação com seu pai, voz grossa, partir para porrada por qualquer coisa, ser da tropa de choque, mas desejar homens para transar.
E sobejam os casos mistos, ter uma identificação feminina e ao mesmo tempo uma escolha de objeto homo-erótico.
Nelson Rodrigues afirmava que dentro de homem existe sua infância enterrada feito sapo de macumba. O ele faltou dizer é que também está enterrado em cada um de nós o nosso oposto, o sócio minoritário das nossas escolhas, é ele que treme quando o assunto é gay. Quanto pior enterrado, quanto maior esse sapo, mais vai reprimir nos outros para reprimir em si mesmo.
Será que não há também torcedor gay no país? Que vida esse torcedor está defendendo no estádio?
Uma coisa é ser gay..outra é ser bibinha revelada estrelinha pimpona,...ele representa um grupo e não ele sozinho, o importante e que tem ser ressaltado é o futebol e não a opção sexual de ninguém..
ResponderExcluirOq eh ser Gay pra vc "Anônimo"? Pra mim, eh somente um desejo sexual e AFETIVO por pessoas do sexo masculino. Não é um tipo de personalidade, um partido politico, um grupo, uma sociedade alternativa oq seja! A sociedade tá mto acostumada em associar o homem feminino e esteriotipado com gay... Existem homems que são delicados, e etc... e são heterossexuais. Na mesma forma, que existem gays que são masculinizados e machões! Então isso não tem nenhuma relação com a orientação sexual. Pq não poderia um gay afeminado (ou não) ser um jogador de futebol ? Richarlysson por exemplo, eh afeminado e não é homossexual ! eai?
ResponderExcluirTexto excelente, tem coisas que nunca pensei. Tenho muitos amigos casados, tem mulheres lindas, tem filhos, jogam futebol, se consideram muito macho que quando bebem se declaram na boa, e aprontam todas, todas mesmo.
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