Ano novo, discussões velhas!
Antes mesmo da 2ª temporada do The Voice Brasil chegar ao fim, as redes sociais já exercitavam seu péssimo hábito homofóbico de apontar a suposta homossexualidade de artistas e celebridades baseadas em estereótipos de gênero que alimentam o machismo e a homofobia e transfobia.
Desta vez o alvo foi o cantor cearense Sam Alves, o vencedor da temporada. Na “cartilha LGBT” consta que orientação sexual, gênero e identidade de gênero são coisas distintas e que papel de gênero não define orientação sexual, mas alguns ativistas LGBTs parecem esquecer-se disto quando afirmam categoricamente por aí que Sam Alves é gay porque “tem cabelo cacheado”, “faz coração com a mão”, “tem cara de passiva”, “canta como uma diva” e outros estereótipos ridículos propagados por nossa sociedade machista que automaticamente define que homens que fogem do padrão social de gênero masculino só podem ser gays.
Homens héteros podem fugir do padrão de gênero masculino assim como homens gays podem seguir esse padrão. Afinal, ninguém fica especulando se o “gay-macho-alfa” é gay e querendo-o tirá-lo do armário à força. Por regra, isso só acontece com o “gay-afeminado-pintosa” pela obviedade de sermos uma sociedade machista que menospreza a figura feminina. Além do fato de só especularem sobre a homossexualidade de homens que se encaixem no padrão estético de beleza, pois como bem me lembrou no Facebook o meu amigo Elderson, essa forçação de saída do armário não acontece quando o cara não se enquadra também nesse padrão.
Neste post eu limito minhas criticas ao ativismo LGBT porque em um outro post sobre o Luan Santana já teci minhas breves críticas à sociedade em geral, principalmente a mídia. Limito as críticas aqui por considerar inadmissível que passe batido o fato de quem tenha o mínimo de engajamento pela igualdade LGBT faça coro com essa essa cultura de pré-julgamentos baseados em estereótipos de gênero e patrulha da sexualidade alheia.
@MichelyFerreira SEXUALIDADE NAO SE PERGUNTA, POIS OFENDE AS PESSOAS. MAS NAO SOU GAY.
— Sam Alves (@samalvesmusic) 20 outubro 2013
O cantor Sam Alves fez dois tuites equivocados para negar que seja gay, dizendo que questionar a sexualidade de alguém é ofensivo e de que “continua hétero” e tem amigos gays. Considero equivocados porque o questionamento em si não é ofensivo, mas o motivo e o tom de quem questionou pode ser. Entendo que ele foi irônico ao dizer que “continua hétero” por não ser a primeira vez que ele respondia sobre no twitter, portanto, “continuava hétero” desde o último questionamento, mas isto não significa que ele esteja rechaçando gays de alguma forma para complementar que tem amigos gays.
Se Sam Alves é gay ou hétero, definitivamente não é da conta de ninguém. Sobre suas declarações, como ativistas que pretendemos reeducar a sociedade, não é atirando pedras sem explicar e dar a oportunidade para as pessoas reverem seus posicionamentos que vamos avançar na luta por igualdade. Neste caso, considero muito mais importante e eficaz combater as causas do problema do que os efeitos.
“@IrisAires: vou perguntar se o sam é gay askaposkapok” já me perguntaram muitas vezes, mas continuo hetero ... Tenho amigos q são gay :)
— Sam Alves (@samalvesmusic) 2 janeiro 2014
Infelizmente, ainda vejo muitos LGBTs, principalmente gays e bissexuais, utilizando-se dos estereótipos da sociedade opressora para oprimir igualmente, querendo forçar uma saída de armário de quem supõe-se ser gay, como se a grande maioria sempre tivesse se aceitado e não tivesse tido nenhum conflito para se aceitar, se assumir e como se essa opressão e forçação para saída do armário não tivesse prejudicado mais do que ajudado a maioria que agora aponta o dedo para seu semelhante ao invés de fazer uma compreensão de algo que, na prática, muitos já viveram e passaram.
Eu acho o cúmulo da contradição as pessoas reproduzirem tais estereótipos e práticas homofóbicas de apontarem alguém como gay e quererem tirá-lo do armário ao mesmo tempo em que criticam o “gay” por não ter orgulho de si e de se assumir. Dificilmente quem é gay de fato se sentirá seguro se quem deveria compreender a situação por já ter passado por essa repressão - membros da comunidade LGBT - se juntam aos opressores.
E eu nem vou entrar aqui na questão de alguns juntarem esse dilema todo com o fato do Sam ser evangélico. Qualquer dia faço um post sobre como acho condenável a negação do direito à liberdade de crença para LGBT.
Meu ativismo por justiça e igualdade é um ativismo que compreende e estende a mão para quem possa estar passando por aquilo que um dia eu já passei e não um ativismo que me coloca ao lado dos opressores que, no passado, dificultaram e me prejudicaram em ser quem eu sou.
Postagem original aqui.
Esta sociedade é hipócrita e podre, não pode ver ninguém ascender a uma escala melhor que a deles que já começam envolucrar a pessoa. Que ele seja gay, qual o problema? Alguém vai pagar as contas dele?
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